sábado, 10 de agosto de 2013

A carta de meu pai.

                                                A Carta de meu pai.

Como já escrevi antes, mais precisamente no dia dos pais, o meu pai sofreu vários infartos do miocárdio vindo a falecer em 1977, mas lá pela segunda experiência, talvez achando que iria morrer mais cedo do que aconteceu, escreveu esta carta que encontramos entre seus guardados depois de sua morte. Como a achei muito linda, guardei-a, porém o tempo a amareleceu e quase não dá para ler, então antes que se deteriore totalmente e para que mais pessoas saibam do pai romântico e inteligente que tive e que sabia como ninguém colocar seu pensamento em letras, tive que transcrever na integra a carta, e colocarei a original para que vejam que letra bonita  ele tinha também. Penso sinceramente que seria um bom escritor se assim tivesse "ousado".
Um detalhe interessante é que nesta data ele tinha só 48 anos.  Abaixo a carta na integra;

Ele nasceu em 31/01/1910

"Meus agradecimentos.

Não me canso de agradecer a Deus por tanta felicidade. Considero-me o mais feliz dos mortais. Casei-me com a melhor das mulheres e a mais devotada das mães e a mais amante das esposas e com ela tive os filhos que são o meu orgulho de pai, estão todos fisicamente perfeitos e moralmente sãos.
Otimos filhos e ótimos irmãos e os nossos melhores amigos, todos com grande coração. Duas das filhas ja estão casadas com maridos que os considero filhos.

A elas aconselho sempre a seguir o exemplo dos seus pais, amando e respeitando os seus esposos para que vivam sempre num clima de confiança e felicidade e que isso só se consegue com amor e muito amor. Por isso digo-lhes: amem-se sempre e sem limites. Para o amor não deve haver obstáculos. O amor tem que ser inteiro, todo, integral, pois só assim ele se transformará em confiança, alegria e se transmutará em felicidade.
Este é o meu conselho a vocês , meus filhos, pois foi amando assim, a todos os momentos, todos os dias é que vivo há vinte e cinco anos em lua de mel.
Para que a felicidade que eu desejo para vocês seja uma coisa concreta, palpável, eu venho contribuindo com os meus fracos conselhos e pobres exemplos, tudo muito pouco, mas junto com a experiência que a inteligência de vocês têm tirado da vida diária e aprendido com a natureza, esta grande mestra, espero ver vocês todos bem felizes. Para mim, o que ainda espero da vida é ver o José Carlos, a Tida e a Ely casados, bem contentes e felizes e eu poder beijar e mimar os filhos da Nádia , da Nanci, do José Carlos, da Tida e da Ely.
Sinto-me velho e acabado e não conto ver os filhos da Tida, por isso as bênçãos por antecipação. Eu ja vivo nos meus netos; por tudo isto sou um homem feliz, porque é feliz aquele que vive nos seus descendentes, feliz aquele que pode abraçar e beijar crianças bonitas e ver nelas ramos e brotos da velha cepa, do velho tronco.
Por todas essas graças e bênçãos prosterno-me reverentemente para agradecer a Deus e a Jesus, pois sinto que venho recebendo e desfrutando atravéz dos meus filhos, da minha esposa e ds que aqui vivem, mais do que mereço.
Que o bom Deus reparta com todos vocês o excesso do que tenho recebido e que o mesmo vocês possam dizer mais tarde aos vossos filhos. Graças meu Deus.
Que assim seja."
Ernani

Em 22/07/1958



Um comentário:

  1. A isso eu chamo dignidade paterna. Que bela carta, Clotilde. E que grande pai. Um abraço!

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