quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A soma das diferenças é a composição de todos


A Soma das Diferenças é a Composição de Todos

O pai da Camila lia despreocupadamente o jornal pela manhã quando a jovem sentou-se à mesa para o desjejum. Sem tirar os olhos do jornal aberto na seção de política, lhe desejou um bom dia, sendo respondido em seguida.
- Bom dia papai. Posso lhe pedir um favor?
- Sim claro.
- É que eu tenho um novo namorado e quero lhe apresentar, se possível ainda hoje.
- Por que assim tão rápido?
Perguntou olhando-a por cima dos óculos enquanto abaixava o jornal calmamente para olhá-la melhor.
- É que talvez não seja do seu agrado, como sempre, então não quero me envolver demais se não for para ter um futuro.
Falou com seriedade e quase rispidez.
Sorridente, o pai lhe envia um doce sorriso de prazer incontido ao ver o quanto sua filha se preocupava realmente com sua opinião. Até respirou fundo antes de falar mansamente.
- Por que pensa assim de seu pai, filhinha? Eu só desejo o melhor para você, jamais faria alguma coisa para vê-la sofrer...
- E o que aconteceu ao Paulo? E ao Marquito, ao Dráusio, ao Sérgio, ao Tadeu...
- Foram tantos namorados assim, minha querida?
- Foram muitos, papai, muito mais do que eu gostaria. O senhor está se esquecendo que já passei dos trinta anos ha muito tempo? Já estou perdendo a esperança de encontrar alguém que seja do seu agrado.
- Olhe, minha querida, você sabe quais são os meus argumentos, o meu pensamento em relação aos seus namorados...
- É, mas não consigo entender o porque dessa bobagem, não acredito que em todo o planeta exista alguém que tenha a mesma mania que o senhor.
- Que bobagem, minha filha. Como pode pensar assim a meu respeito? Qualquer pai tem preocupações com os filhos...
- Mas não baseadas em teorias estapafúrdias como as suas.
- Minha filha!
- Desculpe papai, mas o tempo está passando e não consigo encontrar alguém que preencha o seu gabarito. Além do que o “mar não está para peixe”. Os homens já não nascem mais em árvores, atualmente eles são flores de estufa. Raríssimos.
- O que é isso minha filha, com a sua beleza física e o seu interior todos os homens caem aos seus pés, desde que você lhes estenda seu olhar magnânimo, é claro.
- É claro! Claríssimo! Bem se vê que o senhor não sai de trás deste jornal e da frente da TV. Meu pai, a realidade atual é outra. Ande pela rua, pergunte às pessoas e não se baseie em meia dúzia de palavras impressas ou faladas na mídia. Elas não são unanimidade. Repito, a realidade é outra. Não existem pretendentes no mercado.
A mãe até aquele momento estática e calada como uma esfinge do outro lado da mesa resolveu se manifestar.
- Meu bem...
- Calada!
Responderam pai e filha juntos sem permitir a interferência daquela pessoa que para eles não tinha mais importância que um objeto qualquer daquela sala. Um verdadeiro candelabro com velhas e descoradas velas.
-Mas eu só queria pedir que me passassem a geléia...
Contrariada pela interrupção Camila pegou os dois potes de geléia que havia na mesa e colocou-os diante da mãe, deixando bem claro que não queria mais interrupções enquanto decidia o seu futuro com o seu amado e autoritário pai. Gênio difícil que a filha herdou, bastante carregado nas cores.
- Veja bem, minha filha, quando eu lhe explico minha teoria e você não aceita, nossa família entra em conflito e a paz desse lar se esvai como água morro a baixo.
- O senhor não me entende, meu pai. O senhor impõe um argumento completamente sem lógica. Baseado em quê, uma pessoa não pode escolher seu companheiro aleatoriamente? Tenho sempre que saber primeiro a árvore genealógica da pessoa, desmembrar cada ramo, verificar as suas origens, lhe passar todo o relatório para depois de um tempo indefinido, o senhor me dar a resposta que sempre é negativa; enquanto isso eu faço o que? Como posso fazer uma coisa dessas cada vez que arrumo um namorado? Que explicação ou desculpa dar a ele para a sua exigência? Seu excesso de zelo?
- Muito simples como das outras vezes diga que eu sou um apaixonado por heráldica, genealogia, sei lá, você é tão inteligente, criativa, dê-lhe uma desculpa convincente. E até porque não deixa de ser verdade. É muito simples, é só uma questão de boa vontade.
- Simples claro! Não é o senhor que tem que arrumar a desculpa esfarrapada e ainda esconder a verdade, tudo isso enquanto namora. Muito fácil. Foi fácil assim com mamãe?
- O que você acha?
- Há quantas famílias mamãe pertence mesmo?
- Oito. Exatamente oito, sendo só de três raças.
- E quanto às raças? Como é possível? Desde Adão e Eva?
- Ora desde Adão e Eva seria impossível, apesar de que seria o ideal, mas é claro que dentro desses últimos quinhentos anos já me contenta. Depois do descobrimento, vá lá.
- Descobrimento do Brasil?
- Sim, desde mil e quinhentos.
- E quanto à mamãe?
- O que tem ela?
- Como a encontrou mesmo?
- Eu fui buscá-la naquele vilarejo onde oito famílias o fundaram e lá a encontrei.
- O senhor não a encontrou, é muito diferente, o senhor a seqüestrou naquela comunidade religiosa que não permite acesso à civilização, sem luz elétrica e nenhum outro meio de comunicação, jornal, rádio e tv. Isso foi uma covardia de sua parte, papai.
- Não diga isso, foi por uma boa causa. Raça pura não é uma boa causa? Quanto mais pura melhor.
- Como boa causa? É como quer que eu arranje um marido? Quer que eu também seqüestre um? Quem sabe na mesma comunidade de onde saiu mamãe?
- Não, lá é impossível! Não podemos nem passar por perto, apesar de reconhecer que se você fosse um rapaz em vez de uma garota, as coisas seriam bem mais fáceis.
- Não consigo compreender essa sua mania...
- Não é mania já disse! Tenho motivos científicos para defender a minha teoria.
- Sim eu sei o senhor já me disse “trocentas” vezes, mas para mim a sua teoria não vale nada, nem um centavo da minha boa vontade, não tem importância nenhuma. Não concordo com o senhor em nada, mas como Voltaire, lhe dou o direito de defendê-la, e o meu respeito como filha, ainda lhe dá um pouco de crédito.
- Menina teimosa! O que lhe digo e faço é para o seu bem, minha filha.
- Este seu argumento é de domínio publico, aliais de domínio paterno. Todos os pais e mães do planeta usam esta frase quando querem impedir aos filhos o direito de escolha. Isto não é justo. Vocês fazem chantagem.
- Chantagem fazem vocês, filhos, quando não querem ver o que é certo, o que é melhor...
Ia repetir a frase mais uma vez quando se deu conta que esta não funcionava mais com a sua amada e muito teimosa filha. Precisava rever seus argumentos e preferiu calar, enquanto estendia a xícara para que a mulher lhe servisse de mais café.
- Minha filha quer que eu lhe faça uma omelete?
- Omelete? Ficou louca, mamãe? Vou trabalhar senão me atraso, não esqueçam que vocês vão conhecer o meu novo namorado, hoje à noite.
E saiu apressadamente em direção ao seu quarto para terminar de se arrumar.
A mulher ia perguntar para o marido se queria omelete, mas nem chegou a abrir a boca e ele respondeu voltando a olhar para dentro do jornal.
- Não!
Realmente aquela família não encontrava nunca um consenso sobre os direitos de cada um.
A mulher pensava e agia como uma escrava de senhores tiranos. Era quase transparente para o marido excêntrico e egocêntrico e a filha mimada e teimosa.
Enquanto ainda retirava a mesa do café a filha passou por eles como um raio, apressada e saiu batendo a porta, sem nem se despedir. Lá fora se ouviu em seguida o carro acelerado se afastando cada vez mais.
A noite já ia alta quando a campainha da porta tocou e em seguida a porta se abriu para um homem ainda jovem de barba crescida de terno e gravata, calçando tênis, que entrou pela sala trazido pela mão de Camila.
O Pai já não gostou daquela extravagância moderna. - Onde já se viu um homem de terno calçando tênis?- Não pode ser uma pessoa normal. A culpa é da mistura cada vez mais desenfreada. - Pensava aceleradamente enquanto o moço se aproximava para cumprimentá-lo, segurando-lhe a mão com as suas duas. -Muito estranho só pode ser a mistura... _ pensava sem parar. –Onde minha filha encontrou essa criatura?-
- Boa Noite seu Noronha. Tenho muito prazer em conhecê-lo.
- Boa Noite, sente-se, meu jovem.
Ignorou o comentário complementar ao cumprimento. E ficou calado examinando-o descaradamente diante do visitante causando certo constrangimento.
A mãe de Camila entrou discretamente na sala o que fez com que o rapaz desse um pulo como se fosse ejetado da cadeira, estendendo-lhe as mãos, para novo cumprimento.
- Minhas mais sinceras saudações, senhora, sua filha sempre lhe menciona com palavras de carinho.
Pai e filha se olharam em extremo espanto, ao perceber o quanto o moço era educado e gentil com a senhora, mesmo sem ter nunca ouvido da namorada a palavra mãe e nem sequer teria sido informado da existência dela; soube ser gentil em sua presença.
- Você é muito gentil e cavalheiro, obrigada.
Falou a mãe num fio de voz, constrangida com o inusitado em sua apagada vida, pedindo licença para ir preparar um café para todos.
- Pois bem meu rapaz, fale-me de você. Vejo que é um moço muito educado e gentil como bem mencionou minha mulher.
- Sou um homem comum que estuda sempre para melhorar e trabalha com seguros, daí a minha facilidade em me comunicar. Talvez seja isso que lhes deixei passar; esta característica da minha personalidade. Não tenho constrangimento em elogiar e em tratar bem às pessoas. Por ser cristão vejo no meu semelhante um irmão e potencial.
Daí, olhando por uns momentos nos olhos da filha, o pai de Camila respirou fundo e resolveu ir direto ao assunto, pois haveria uma entrevista que lhe interessava assistir na TV, e sem muitas filigranas foi direto ao assunto do seu real interesse.
- Meu rapaz, de qual família você descende, qual raça, qual é a sua origem?
- O senhor é racista?
- Não, claro que não! Não me leve a mal, minha filha já deve ter-lhe dito que aprecio a genealogia, a origem das famílias, e gostaria de saber a origem de sua família, pelo lado paterno e materno, claro.
- Que gosto estranho o seu, me desculpe à sinceridade, Sr. Noronha. Eu poderia saber do senhor qual é a sua origem? A sua ascendência? Também sou curioso...
- Eu perguntei primeiro...
Sorriu meio sem graça, querendo suavizar a conversa, mas no fundo já querendo despachar o jovem ali mesmo, porém ainda lhe restava de algum ancestral a nobreza de receber bem e com educação.
Então, indo buscar paciência nas profundezas do seu ser aguardou-o pensar um pouco e responder:
- Em princípio até onde eu sei, descendo de Espanhóis e Franceses por parte de avós maternos, mas do lado de meu pai, que Deus o tenha, segundo minha mãe, eu tenho origem portuguesa do lado do meu avô e também africano como minha avó, mas também uma das bisavós era índia e a outra Paraguaia. Do lado de minha mãe também têm Italianos, Ingleses e Irlandeses...
- Você é uma salada de frutas, meu filho.
Interrompeu-o escandalizado.
- E o que tem isso? O que importa é o meu caráter, a minha pessoa.
- Não, para mim importa e muito a sua origem, ora veja!
Falou indignadíssimo quase ofendido por estar na presença de tão misturada criatura.
- Eu não consigo entender...
Falou o rapaz olhando desesperadamente, quase pedindo socorro à Camila, que pálida e dura como uma pedra assistia impassível mais uma vez aquela cena cada vez mais comum na vida dela. Tudo acontecia como sempre, e como sempre, na cozinha sua mãe mantinha o café aquecido numa garrafa térmica e acomodava as delicadas xícaras sobre uma toalhinha de renda numa pequena bandeja de prata antiga, para o momento certo de entrar novamente na sala. Enquanto arrumava tudo com gestos mecânicos, acompanhava atentamente, graças à boa audição, o desenrolar da conversa no ambiente ao lado.
Mais uma vez a cena se repetia, e mais uma vez as esperanças de Camila em se casar, escorriam pelo ralo. Não conseguia entender como uma pessoa inteligente como o seu pai pode ser tão intransigente com relação a esse assunto, a mistura de raças? O que o levava a implicar com todos os seus namorados a ponto de impedir que se casasse?
E a conversa continuava...
- Você na realidade não é de raça nenhuma, não vê? Você não tem origem definida.
- E em que isso importa? Eu não sou um ser humano? Sou uma pessoa digna, trabalhadora, não tenho vícios e nem taras ou qualquer comportamento que denigra a minha pessoa. O senhor deve ser uma pessoa com problemas psicológicos sérios, só pode ser, nunca vi nada igual.
- Está me chamando de louco? Entra na minha casa e debaixo dos meus bigodes me chama de louco? Ora faça-me o favor!
Os ânimos estavam ficando cada vez mais alterados para desespero das mulheres que não abriam a boca, cada uma em seu canto.
- O senhor é uma pessoa estranha, será que sua filha lhe herdou essa mania de ofender? Sim porque se for, nem a quero mais. Não toleraria viver com uma mulher assim.
- Não ofenda a minha filha. Ela é o bem mais precioso que tenho e não admito que sugira qualquer deficiência nela, seja física, seja comportamental. Ela só tem qualidades.
- Muito bem, fico contente com isso, mas o senhor com esta mania de raças e origem de família, mais parece uma pessoa meio desequilibrada. Repito, nunca vi uma coisa dessas, e olha que eu trabalho com o público, com pessoas de todo o tipo, mas o senhor me deixa abismado.
Falou olhando ora para Camila, ora para o pai, com olhar de espanto, como se não acreditasse no que estava ouvindo ali, naquela sala, e continuou;
- Se for racismo vou lhe denunciar e fazer um boletim de ocorrência agora mesmo. Vou recorrer a Lei Afonso Arinos. Não admito isso; nos dias de hoje alguém descriminar o seu semelhante por racismo ou outro preconceito qualquer.
- Não vai não, já lhe disse que não é racismo.
- Então explique o que é.
- Está bem, meu jovem, eu penso que vai chegar uma hora em que o ser humano vai explodir de tanta interferência racial...
- Como assim?
- Senão veja: Acompanhe o meu raciocínio. Calcule de quantas raças você é feito?
- Imagino que... Não sei nem faço idéia. O que isso tem a ver? Todo mundo é feito de muitas raças, mas daí...
- Deixe-me continuar; Claro que tem a ver. Tudo que é muito misturado perde o valor.
- Como perde o valor, ficou loco?
- Perde o valor sim. Potencializam-se os estigmas, as marcas de personalidade. Vou dar um exemplo; Você pega uma tinta branca e pinga duas gotas de corante azul, mais duas de amarelo e mais duas de vermelho e vai misturando e colocando mais, assim por diante. Depois mistura com as tintas que já são misturas como o verde que é a mistura do azul com o amarelo, o laranja que é a mistura do vermelho e amarelo, o roxo que é o azul com o vermelho e assim continuando a misturar vai virar “cor de burro quando foge” e não vai dar certo.
-Mas uma coisa e misturar tintas, e outra é misturar raças.
-Para mim dá no mesmo. Vai chegar uma hora, que em meio a estas “zilhões” de células que se compõe o corpo humano, teremos uma célula de cada raça. Olhe só o absurdo, não paro de pensar nisso e não posso concordar com isso! Não sei como os geneticistas não vêem este absurdo e não fazem alguma coisa?! É patético que um homem comum como eu veja o óbvio, e ninguém mais veja?
- Qual é a sua origem? Diga-me, para eu ver se a sua preocupação tem fundamento.
- Eu tenho na minha família, até onde eu já consegui investigar: Russo, Alemão, Australiano, um Coreano, Inglês, Argentino, Chileno, Peruano e uma bisavó que descendia de Porto-Riquenhos. Ora veja, se já não dá uma boa mistura essa minha? Agora se minha filha casar com você e me derem um neto, com a sua mistura mais a dela que leva a minha e a da mãe que descende de Canadense e Americano, com um pé no México; não vai dar. É colapso total. É demais para a minha cabeça.
- É só não pensar...
- Como não pensar? Isso é a mais descabeçada loucura. Alguém tem que parar com isso. Nunca vou permitir que a minha filha case com alguém que tenha misturas além das nossas.
Enquanto proferia essas últimas palavras enxugava lágrimas de desespero.
Sem saber o que argumentar o jovem calou-se e um silêncio sepulcral e constrangedor abateu-se sobre eles por uns momentos; e antes que retomassem a conversa, entrou na sala com a bandejinha na mão, D.Sara Lee, trazendo um cafezinho cheiroso acompanhado de biscoitinhos de araruta, para fechar aquela conversa sem pé nem cabeça que sempre acontecia ao longo destes anos em que a filha começou a namorar.

Serviu a todos em silêncio, guardados em seus pensamentos, poucos momentos antes que o moço ainda atarantado saísse por aquela porta sem se despedir e nunca mais voltasse...
                                                  XXX
Esta história foi postada anteriormente em abril de 2009

                                                                         
estaE história foi postada em abril de 2009

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Pensares

                                                         Pensares
Estava lendo hoje pela manhã um pensamento no Facebook que ao mesmo tempo em que valorizava a família engrandecia aquelas amizades que se agregavam a mesma e pareciam ser mais valorosos que muitos membros da própria família e na maioria das vezes eram amados com verdadeira reciprocidade.
Explicando-me melhor; muitos amigos nos são mais caros que muitos parentes de sangue, e isso não me admira já que pelas escrituras espiritas nem todas as famílias são afins, na maioria das vezes são justamente formadas por desafetos que se propuseram a acertar velhas arestas e formarem novamente um grupo de pessoas com afinidades e tolerância mútua pelo menos.
Assim aqueles que amamos espontaneamente mesmo não sendo da família são espíritos que também vieram com a finalidade de conviver mais intimamente para amenizar o sofrimento daqueles que tem que a cada dia acertar contas passadas e que por vezes a vida para eles se torna muito pesada e dolorosa no âmbito familiar.
Na maioria são espíritos especiais que já fazem parte da família espiritual, aquela que não se distancia com a desencarnação, mas permanece sempre ao lado ajudando na difícil tarefa de evoluir. E quando por algum motivo não vem na familia vem como amigos muito próximos.
Dai se explica aqueles casos em que mães abandonam seus filhos e pais que se negam a reconhecer a paternidade causando indignação da parte dos que só veem o lado material, não conseguem ver atrás daquele ato indigno uma motivação.
Para essas pessoas que agem de maneira inconsequente, a um motivo guardado no inconsciente. Eles sabem que aqueles espíritos que vieram como seus filhos na verdade são antigos desafetos, são espíritos credores de vidas passadas e que agora conseguiram a oportunidade de reencarnarem juntos para se perdoarem e refazerem a amizade para o bem de ambos, porém é muito difícil perdoar e  relevar o erro alheio, dai que uma mãe que gera o seu próprio algoz nem sempre consegue ir até o final do compromisso, no caso do pai a mesma coisa.
Não quero com isso desculpar essas mulheres que cometem esses crimes e esses pais irresponsáveis, mas quem sou eu para julga-los?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ponto de vista

                                                                  Ponto de vista
Acho interessante o Ponto de Vista das pessoas, principalmente passeando pelo Facebook.
Às vezes uma simples frase causa uma polêmica federal. Outro dia mesmo acompanhava uma “discussão” levantada por um simples post de um blog sugerido por alguém.
O mesmo post que já era uma opinião semelhante a que estou escrevendo aqui, ou seja, de uma postura de opiniões, quando alguém fala algo e é interpretada de outra forma, dai a pessoa que se identificou com a blogueira postou no seu “Face” e os amigos dela se levantaram todos divergindo ou concordando com a blogueira e por consequência com a pessoa que postou.
Fiquei admirando as opiniões de todas as posições rindo de umas mais indignadas e apreciando outras mais comedidas, observando o quanto as pessoas se enfurecem por tão pouco, mas sempre opiniões dignas de nota. Acho que o ponto de vista que leva a uma opinião, tem a ver com os valores e criação de cada um, só pode.
Se uma pessoa vê na postura de alguém bom gosto, a outra enxerga como exibição, pedantismo e por ai vai, porque a experiência dela não atinge aquela percepção, talvez tenha sido criada com muita dignidade, porém longe  da sofisticação, da etiqueta e ela se revolta e não entende. Só que quando se foi criado com coisas, vamos dizer “mais finas”, é claro que essa pessoa é naturalmente mais educada e mais sofisticada, e não vejo nisso nenhuma diminuição da outra que não teve a mesma sorte, apenas são experiências de vida diferentes, dai infelizmente ela sente-se agredida por aquilo que ela queria ser, mas não é, mas a realidade é que ela não tem berço e precisa comer muita farinha para ser uma pessoa “naturalmente” fina e elegante no ser e no agir.
Certa vez também fui opinar sobre religião num post de um amigo virtual no Facebook tal foi a repercussão que chegou a alterar a minha pressão arterial e passei mal por umas horas, tal o tratamento que tive da parte de uns “amigos” do meu amigo virtual. Recebi palavras ofensivas e fui destratada simplesmente por que ousei colocar a minha humilde maneira de pensar.
Porque será que existem pessoas que se acham acima do bem e do mal, que acham que só sua opinião, sua forma de ver o mundo é válida ou “inteligente”? Será que é porque estão de alguma forma “escondidas”? Elas diriam essas coisas ao vivo e a cores? Se for assim nem quero conhece-las.
Ora, se cada um é cada um, porque não falar e ouvir e vice versa mesmo divergindo? Por que tanta indignação tanta disputa de opinião se cada opinião vale menos que uma rosquinha?
Isso de ficarmos horas nas redes sociais só reafirma que estamos cada dia nos aprofundando menos nas questões, basta uma frase de efeito que todos os “amigos” já correm a compartilhar e nessa eu me incluo, mas observo que tudo é superficial, que muito do que se fala não falaríamos num convívio mais intimo até para não jogar conversa fora e das belezas ditas nas frases de famosos nem sempre somos seguidores.
 Ao vivo imagino que nos policiamos bem mais naquilo que falamos e se falamos um português correto, o que na rede também passam batido muitos erros de digitação e não estamos nem ai porque “todo mundo” sabe que digitamos correndo e displicentemente e logo apertamos o botãozão maldito que distribui correndo no mesmo segundo num susto.
Espero que com minha opinião não me mandem novamente “catar coquinho” que a minha pressão está bem equilibrada e não estou a fim de mais um susto.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Relembrando

 Relembrando
Remexendo nas minhas anotações do meu caderninho de viagem me deparei com uma lista de musicas que cantamos num passeio que fizemos.
O grupo da terceira idade era animadíssimo e além das musicas contaram piadas de todos os níveis e também alguém leu várias poesias de sua lavra de pagina e meia cada uma. Sem comentários.
Também distribuíram uns cadernos de letras de música para que todos acompanhassem se não lembrassem as letras. Muito pratico. Na lista de músicas cantamos; Serenô, De papo pro ar, Caipira Pirapora, Índia, Beijinho doce, passarinho tchutchu, Estrela Dalva, Carinhoso, Adeus Guacira, Eu sem você, Helena, Que vá tudo para o inferno, Flor do sertão, A volta do boêmio, Rainha do lar, Aquele lencinho, Trem das onze, Meu primeiro amor e Caminhemos.
Como pode ver foi bem animado e se você conhece todas essas musicas e ainda se lembra de cantar alguma de vez em quando, também faz parte do grupo dos que “já passaram do meio dia” e provavelmente iria cantarolar junto, como eu fiz.
Também me lembrei de um aniversário de oitenta anos de uma senhora, que eu fui certa vez, quando eu ainda beirava os cinquenta anos e ao chegar lá me dei conta que eu era uma “garota” entre elas. Se somassem todas as idades daria mil anos, no mínimo.
 As idades variavam dos setenta e cinco aos noventa e tantos. Nunca me esqueço das conversas que rolaram. Enquanto falavam dos conhecidos que haviam morrido, foi servido o lanche muito saboroso por sinal, e todas conversavam alegremente.
Lembraram-se de momentos de quando eram mais jovens e de situações que passaram até que alguém perguntou pelo Gregório e prontamente alguém falou:
- Ah, o Gregório tá ruinzinho, já nem sai mais no sereno.
Fiquei sem entender, mas a frase nunca esqueci.   
La pelas tantas alguém se lembrou de contar o drama da Renilda.
A Renilda era filha de um fazendeiro rico da região e quando o velho morreu a Renilda ficou sem herança, pois foi registrada pelo empregado da fazenda. Assim: O dono da fazenda mandou o empregado registrar a menina, filha dele, que havia nascido na fazenda. Naquele tempo das carroças levava-se um dia para ir e dois para voltar, já que a carroça vinha carregada e às vezes as circunstâncias não ajudavam. Daí, como ela contou, o empregado deve ter bebido umas pingas a mais e foi no cartório registrar a criança como o mandado, mas só disseram o nome da criança ou se escreveram num papel o cara deve ter perdido pelo caminho. Quando chegou ao cartório provavelmente perguntaram o nome da criança e o nome dele pensando que ele era o pai e dai a confusão, na hora da  partilha da herança a pobre, literalmente, Renilda, não existia como filha do fazendeiro, é mole?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Os "sem-terra"

                                                        Os “sem-terra”
Mais um pequeno conto de três palavras BOTARÉU, MUTIRÃO E CAIPORISMO...
Armandino fez um BOTARÉU, pois não confiava nem um pouco na parede que o compadre Zequinha levantou. Em tempos de CAIPORISMO não se pode vacilar.
Fazia tempo que Armandinho não pegava numa colher de pedreiro, para falar a verdade desde que era noivo da Mercedes, quando em sistema de mutirão levantaram a casinha onde moram até hoje, onde criaram os filhos e isso já vai um bom tempo. Agora novo MUTIRÃO, os amigos resolveram ajudar o filho do Feliciano que “embuchara” uma menina e precisava casar e arrumar um teto para criar a família, assim ia construir as três peças básicas; quarto banheiro e cozinha. Para começar está bom...
Era assim naquele vilarejo de meudeus, uns ajudando os outros a viver a vida. Sempre que um tinha um problema, imediatamente o problema era da comunidade e assim todos juntos procuravam a solução.
Daquela vez que o filhinho da Zulmira ficou doentinho todos se juntaram e arrumaram o dinheiro para levar o menino para a cidade fazer tratamento, e assim era ali naquele lugar até que um dia chegou um carro com dois homens dentro e resolveu de reunir todo mundo para fazer um comunicado.
Eles vieram avisar que aquelas terras tinham dono e que eles precisavam se mudar logo. Todos precisavam sair dali o mais rápido possível.
- Mas como? Sempre moramos aqui, falavam todos ao mesmo tempo para aqueles homens que traziam uns papeis em pastas dizendo que era a escritura daquelas terras. Iam construir um hotel enorme e era preciso desocupar aquelas casas.
- Para onde iremos? Sempre moramos aqui, tiramos nosso sustento do rio e da terra, o que vamos fazer?
- Esse já não é problema nosso, estamos só trazendo o comunicado, o dono é um “figurão”, é um grande político. Vocês podem se juntar aos sem terra e ganhar bolsa família. Depois o governo da uma terrinha para vocês e fica tudo certo, enquanto isso vocês terão escola para os filhos, cesta básica e tudo o que precisarem onde estiverem...
Semanas depois aquele grupo se reuniu a um grupo grande dos “sem-terra”  reivindicando também “seus direitos”.
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Melhor idade

                                                       A melhor idade
No meio da semana precisei ir até um ponto da cidade onde os ônibus passam só de 40 em 40 minutos, dai que cheguei na parada para esperar, onde já havia um senhor  de mais ou menos a minha idade que logo foi comentando sobre os horários muito distantes dos ônibus, os absurdos ateamentos de fogo que estão acontecendo diariamente aos ônibus e mais assuntos relacionados ao sistema de integração da cidade e por ai já ia longa nossa conversa quando passou uma outra senhora também da nossa idade que se maravilhou ao reencontrar o senhor com quem eu conversava.
Os dois gentilmente, para não me isolarem da conversa deles, se justificaram dizendo que eram compadres e que há um bom tempo não se viam e por ai foram desfolhando os problemas de cada um.
E ela gentilmente sempre me olhava e sorria me fazendo entender que era comigo também a conversa, mas eu fiquei na minha, calada e com sorriso tipo monalisa, só ouvindo.
Primeiro ela felicíssima (me pareceu assim) lhe comunicou que teve um infarto há sete meses e que havia quase morrido, já que por um erro medico a enfermeira lhe colocou sentada logo após o cateterismo o que lhe causou uma queimadura, palavras dela, pelo sangue que por ali passava, e lhe abiu uma ferida enorme que custou a cicatrizar. Ficou internada por dois meses. E até nos perguntou incrédula:
-“Vocês sabiam que o sangue da gente queima? Pois é, o medico me disse, até pensei em processar o hospital, mas dai deixamos para lá, eu e meu marido”.
Agora ela está bem, mas precisa caminhar por quarenta minutos todos os dias que era o que estava fazendo naquele momento.
Ele então para não ficar por baixo desfilou os números do colesterol, triglicérides e PSA da próstata, valores bons e comparativos ao dele, além da contagem glicêmica.
Dai ela continuou desfilando uma lista enorme de oito ou nove medicamentos que toma três vezes ao dia no que ele prontamente também garantiu que era isso que fazia e cada um na maior alegria contando os seus grandes feitos medicamentosos, foi ai que o meu ônibus chegou e me mandei, pois se fosse contar todos os que eu tomo e quantas vezes eu tomo, além de lhes passar todos os números dos meus exames provavelmente passariam alguns ônibus sem que eu tivesse completado a minha explanação.
Aff... “melhor idade”, quero pegar que inventou essa frase...