Quem sou eu

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Tenho mais de setenta anos, mãe de quatro e avó de seis, bisavó de dois e uma saudade eterna. Leonina humor sarcástico e irreverente. Gosto de ler, escrever, pintar, costurar, fotografar, não necessariamente nessa ordem. Gosto de observar e ouvir pessoas, suas histórias de vida que para mim são sempre interessantes e ricas de ensinamentos e só aumentam o meu conhecimento com respeito a viver. Acho bom e interessante olhar a nossa volta. É sobre isso que gosto de escrever.Gosto de cinema, assistir seriados na TV, teatro, viajar,passear,viajar,passear... conhecer lugares e bater papo sem compromisso. Gosto de olhar o mundo com olhos curiosos de quem acabou de chegar e quer se inteirar do que está "rolando".O nome escolhido "Espírito de Escritora" não tem a pretensão de mostrar aqui "grandes escritos" tirados das entranhas da sabedoria mais profunda e filosófica de alguém "letrado" ou sábio. Simplesmente equivale a dizer "escrever com alegria","escrever com espirituosidade".Tudo o que escrevo já está escrito dentro de mim, do meu eu mais profundo, só boto para fora... sei lá... Este é um lugar de desabafo e de reflexões minhas."Os bons que me sigam". (sabedoria do Chapolim Colorado)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O bilhete de loteria

                                                         O bilhete de loteria
Maria Dalma picou a cebola bem picada até que as lágrimas inundassem o seu rosto magro e pálido, enquanto sobre o fogo a frigideira já aquecia o óleo.
Ela colocou primeiro dois dentes de alho socados e logo em seguida a cebola e as rodelas de linguiça na frigideira e foi mexendo com a colher de pau enquanto o perfume que exalava do alimento se espalhava por toda a casa de poucos cômodos.
Mais um pouco, tampou a frigideira e desligou as panelas de arroz e feijão que estavam prontos assim como a salada de alface e tomates.
Foi até a mesa e estendeu a toalha desbotada e remendada de tantos cortes de faca que os filhos faziam ao cortar o pão diretamente sobre a mesa.
Na mesma hora entraram pela porta da cozinha seu Altamiro que vinha do trabalho e seus três filhos, o Romário, o Raí  e o Ronaldo, chegados da escola.
-Vão lavar as mãos antes de sentar...
Falou Maria Dalma, no automático. Mães têm uma série de frases que já saem automaticamente da boca de tanto educarem os filhos.
Cada um sentou em seu lugar em silêncio e o Seu Altamiro começou a se servir e a estender para os filhos um pouco de tudo o que ele colocava em seu prato.
Em seguida todos em silêncio começaram a comer e assim foi até que finalmente terminaram.
Em seguida Maria Dalma levantou do seu lugar levando os pratos sujos e voltou trazendo algumas laranjas e duas facas com bom corte.
Foi dai que o seu Altamiro comentou:
-Hoje eu joguei na loteria.
-Foi?
-Foi.
Mais um tempo em silencio e continuou;
- Vou ficar rico e vou comprar uma casa bonita e um carro azul.
- Que bom que assim fosse, mas o carro não pode ser preto? Acho tão lindo carro preto...
Falou Maria Dalma um tanto animada
- É claro que não, vai ser azul.
Dai cada filho começou a falar ao mesmo tempo;
- Eu vou sentar na janela atrás do papai...
- Não! Eu é que vou!
-Não, quem vai sentar na janela sou eu!
E os três começaram a bater e dar socos uns nos outros.
- Parem! Parem com isso, desçam todos do carro e vão de castigo para o quarto!

Em seguida o seu Altamiro pegou do bolso o bilhete e achou melhor rasga-lo prevendo que acabaria o seu sossego caso ficasse milionário.

2 comentários:

  1. E talvez o Altamiro tenha sido muito sábio. Não há riqueza maior que paz de espírito...
    Beleza de texto, Clotilde. Um grande abraço.

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  2. Despertou-me a curiosidade, por acaso, a imagem da moça sentada com a vassoura e o balde; assim, cheguei aos Ipês floridos e depois li esses textos do cotidiano narrados de forma agradabilíssima ... Clotilde Fascioni você é uma escritora de mão cheia, não se menospreze!
    É uma pessoa interessante, e voltarei depois para ler outros conteúdos. Abraços. Sra. Leony Lima.

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