Bruxarias
Fim do expediente e os dois amigos saíram do estacionamento
do prédio do escritório rapidamente e rumaram para fora da cidade. Haviam combinado de visitar uma mulher com dons mágicos, na verdade uma bruxa dos dias de hoje que manipula sortilégios e várias habilidades do ramo do sobrenatural. Daquelas que propagam seus dons em papeis colados no poste, garantindo que vai trazer de volta seu amado (a) ou seu dinheiro de volta, tipo assim.
-Cara, eu estou nervoso pra caramba, e o pior é se não adiantar nada...
-Deixe de ser baixo astral, já te falei que a mulher é coisa fina, o Edivaldo me garantiu, volta e meia ele vai lá fazer uma consultinha para acertar uns emaranhados da vida e no seu caso vai ser mole, falta de amor é a especialidade dela.
- Pois é...
-Fica frio, vai dar tudo certo e você vai me agradecer de joelhos.
- hummm.
Orildo fez uma cara de “sei lá” e calou-se, com a timidez que lhe era peculiar
Pouco depois chegaram no alto do morro e uma lua imensa e amarelada já mostrava uma parte por detrás das arvores.
Logo que chegaram, desceram bem na frente de uma humilde casa de madeira tendo ao lado umas pedras bem altas e claras, que à luz do luar serviam de pano de fundo para as sombras das árvores naquele momento um tanto fantasmagóricas, causando no Orildo um pouco mais de aflição.
- Boa noite senhora, eu falei pelo celular agora a pouco com a senhora, é dona Creusa, não é?
- Sim sou eu, e o moço é o seu Ramiro?
-Sim eu sou o Ramiro e este é o meu amigo Orildo. Já lhe expliquei o problema dele não?
-Sim, me lembro... Venham aqui...
E os levou mais para os fundos do pequeno quintal entre as pedras e onde já haviam no chão duas pedras menores acomodadas de maneira a montar uma fogueira que ainda estava extinta, mas que a mulher chamada Creusa reacendeu.
Mandou-os sentar num banco tosco e voltou para dentro da casa.
- Ramiro, eu estou com medo, vamos embora, não gosto de bruxarias, não quero me meter nisso.
- Agora não dá mais, fica frio que não vai demorar.
Nisso voltou dona Creusa lá de dentro toda vestida de vermelho, numa saia rodada e turbante de seda na cabeça e pediu, por favor, que eles pagassem a consulta antecipada, porque depois que ela iniciasse o trabalho não colocaria mais a mão no dinheiro e o Ramiro metendo a mão no bolso lhe entregou R$300,00.
Quando Orildo viu aquilo quase deu um soco no amigo. Onde já se viu jogar dinheiro fora daquela maneira em tempos tão difíceis? Olhou espantado para o Ramiro que desviou o olhar e só lhe falou baixinho:
- É por uma boa causa.
A mulher abriu uma garrafa de vinho, colocou dentro de uma cuia negra e juntou algumas ervas, e em seguida deu para os dois beberem um pouco enquanto dançava ao redor da fogueira cantarolando uma música desconhecida para eles.
Talvez pela qualidade do vinho e a mistura das ervas o vinho lhes causou um arrepio que percorreu a espinha e deu um tranco na cabeça deixando-os meios tontos.
Neste momento Ramiro também se arrependeu de ter ido naquele lugar.
E a mulher continuou dançando e em transe falava de forma estranha e inteligível, rodou mais um pouco parou diante do Orildo, colocando a mão no ombro dele e falando palavras estranhas, de repente deu um grito e arrancou a peruca de sua cabeça como se fosse um bicho peçonhento e num gesto dramático a jogou no fogo provocando nele um grito mais alto e desesperado ainda.
Em seguida voltou para dentro de casa deixando os dois com cara de abestados olhando um para o outro.
- Rapaz! O que foi isso?
-Você me trouxe aqui para isso? E ainda teve a coragem de pagar R$300,00? Você é mais maluco do que eu pensava e ainda fiquei sem a minha peruca de cabelo natural.
Sem ter o que comentar Ramiro saiu de lá, entrou no carro e foi só Orildo fechar a porta ele arrancou cantando pneu daquele lugar esquisito e ermo.
Dias depois Orildo parou o carro no semáforo e olhou para o lado e deparou-se com uma gata dando-lhe a maior bola. Olhou-se no retrovisor e pela primeira vez apreciou a careca antes de voltar a olhar a garota e fazer sinal para pararem logo adiante para conversar.
O “problema” do Orildo era a falta de cabelo que ele achava que o impedia de arrumar namorada...
A bruxa estava certa, o “problema” era a peruca.