Há dois anos mais ou menos escrevi este conto e como hoje estou muito feliz vou postá-lo novamente, pois é bem divertido e de tristeza não quero mais saber.
Hoje eu vou falar de Ovnis, Ufos e etc...
Eu costumo escutar pela Rádio Boa Nova, domingo as 22 horas um programa sobre discos voadores, Ufos etc. "Fenômeno Ufo". Acho muito interessante aqueles depoimentos que alguns dão pelo telefone e os casos contados pelo apresentador do programa. Acho realmente interessante. Aí outro dia pensando naqueles "espertinhos" que se aproveitam da ingenuidade das pessoas e querem enganar até os que realmente levam o assunto a sério e contam coisas que não viram só para se promoverem, eu escrevi esta historinha bem humorada.
"Cachorro Esperto"
“João do Cachorro” era conhecido na cidade por este nome porque vendia o melhor e mais conhecido “cachorro quente” da cidade, todo incrementado por molhos, acompanhamentos e de sabor muito apreciado pelos consumidores usuais. Seu ponto de comércio, um trailer adaptado para lanchonete, ficava num dos cantos da praça central, quase ao lado do único cinema da cidade. Era ponto de encontro para muitos depois do trabalho e de divertirem-se durante a noite. Antes de irem para casa as pessoas passavam lá para um sanduíche e um dedo de prosa. Pouco a pouco, suas mesinhas e cadeiras de metal, ficaram insuficientes para satisfazer a demanda. Trabalhador, com pouca instrução, mas de fértil imaginação, João do Cachorro, não se limitava a vender o famoso sanduiche, mas fazia questão de conhecer e chamar pelo nome cada freguês, fazendo assim um enorme círculo de amizades, juntando velhos conhecidos e companheiros de bate-papo, que enquanto comiam trocavam informações e opiniões de acontecimentos de todo o tipo desde política, esportes, muito futebol e assuntos que se destacavam no noticiário. No local uma pequena televisão ficava ligada o dia inteiro mantendo-o informado de todos os acontecimentos o tempo todo. Porém já havia alguns dias João do Cachorro estava inquieto, meio taciturno, pensava em fazer alguma coisa a mais para sair daquela rotina que começava por volta de seis e meia da manhã e só terminava depois da meia-noite; depois de limpar, organizar tudo e ir para casa dormir, deixando para varar a madrugada só de sexta para sábado e de sábado para domingo, quando faturava mais que o dobro dos dias de semana, mesmo trabalhando o dia todo. Mas é assim a vida de comércio; muito trabalho. A madrugada se apresentava com um céu azul marinho quase negro, totalmente estrelado naquela noite de primavera, exalando um doce perfume vindo do jardim e se misturando ao aroma que vinha do molho e especiarias do seu incrementado sanduíche. Naquele momento só uns poucos carros transitavam vagarosamente de um lado para outro levando casais e pessoas desapressadas. João saiu de trás do balcão e ficou a olhar detidamente o céu quando identificou um satélite que vagarosamente navegava naquele imenso céu emitindo para os da terra informações e talvez até aquele programinha chato e sem graça que ele ignorava na pequena TV na prateleira do fundo do trailer. Foi aí que teve a idéia! -E porque não?- Pensava. Não vai prejudicar a ninguém, pensou com um sorriso sem vergonha e despudorado, na boca de dentes miúdos. O que estaria passando por aquela cabeça? Foi quando um carro tirando-o do devaneio encostou ao seu lado fazendo-o acordar para a realidade. Deu um pulo para o alto e fez uma reverência com o melhor dos seus encantadores sorrisos de vendedor. De dentro do carro o rapaz esticou a mão para um cumprimento de “mano” encostando as costas das mãos, depois as palmas e depois de mais umas duas reviravoltas encostaram os nós dos dedos enquanto demonstravam a alegria de se verem, o cliente pediu-lhe um “completo para ele” e um “simples para a mocinha”. Isso ele saberia sem que fosse preciso falar. Os rapazes sempre comem tudo os que têm direito já as mocinhas, pegam o alimento com as pontas dos indicadores e polegares, olham para o sanduiche detidamente, levam o produto ao nariz, voltam a olhar e daí mordisca um pedacinho só para não desagradar o namorado que após comer o dele inteiro, irá respirar profundamente e comerá o sanduíche dela numa felicidade só semelhante a dos deuses, isso educadamente perguntando várias vezes; -Você não quer mesmo, tem certeza? Porque meu amor, ele está ótimo?! Ah! Como conhecia bem os seus clientes. Logo atrás deles chegaram outros e mais outros que o impediram, por força de atendê-los, de continuar divagando sobre o céu e as estrelas. Mas a grande idéia permaneceu, voltaria a pensar nela mais tarde. E foi o que aconteceu no dia seguinte logo que acordou; Ficou tão feliz com a idéia que depois de um longo banho cantando, escolheu uma camiseta nova de gola pólo e a calça jeans mais nova e foi todo contente para o trabalho. Nem parecia ser meio da semana. Quando acabava de passar o pano limpíssimo com álcool pelo balcão e mais alguns utensílios (habito que causava admiração nos usuários, tão pouco comum nestes quiosques de comida rápida) chegou o seu primeiro cliente, o rapaz que entregava o jornal da cidade desde as quatro horas da manhã e sempre contava com o sanduíche do João do Cachorro antes de voltar para as suas atividades de entregador com moto no restante do dia. -E aí “brother”?! -E aí, irmão, deixa eu te falar o que aconteceu comigo cara, nem eu tô acreditando. -E o que aconteceu? -Cara, eu estava ontem de madrugada aqui neste mesmo lugar que você está, é bem ai mesmo, olhando para o céu, quando de repente aparece um disco voador, um óvni, você acredita? -E não é? Mas como? Assim do nada? -Do nada não, cara. Um Óvni é um Óvni; deve vir de outro planeta é lógico. -E cara... Você está é vendo muito filme... -Que nada irmão, eu nunca acreditei em disco voador e agora um me aparece bem aqui perto logo ali, bem atrás da Igreja, sabe aquela torre da esquerda? Pois é, ele ficou parado um tempão, em cima dela, não um pouco mais atrás... -E aí? -Aí? E ai que ele piscou várias luzes coloridas, eu até pensei em fotografar com o meu celular, mas ele estava sem bateria e quando olhei pela praça para ver se tinha mais alguém por aqui vendo também ele deu uma volta e desapareceu atrás do muro do colégio bem atrás da igreja, assim. E estalou os dedos no ar para mostrar a velocidade do objeto. O entregador perdeu até a vontade de comer, ficou olhando ainda com cara de bobo para o João, seu amigo de tantos anos e de tantas conversas ao amanhecer, mas nunca tinha ouvido dele uma história daquelas. -Como pode uma coisa dessas João; como pode? Falava não acreditando no que ouvira. -Pois é meu. Nem eu to acreditando, ai eu olhei de novo para ver se via alguém, e como não vinha eu arrisquei e corri até o colégio e subi para olhar por cima do muro e ele estava lá no pátio, paradinho no ar há uns dois metros do chão. -Você pulou por cima do muro para dentro do colégio? E seu Rodolfo, o guarda? -E seu Rodolfo guarda alguma coisa? Ele até roncava, eu até sacudi para ele ver o disco voador, mas ele só resmungou e eu corri de volta para fechar e guardar “as minhas coisas” e ir para a casa correndo. Eu é que não ia dar bobeira e ser abduzido, eu não sou besta! -E o que mais? -Como o que mais? Quando subi no muro ele rodopiou e foi subindo depois voando de lado e depois de ré, assim como a gente vê nos filmes e até o pensamento voltar para a cabeça ele já tinha sumido de vez, acho até que ficou uma marca lá no pátio. -Marca de quê? Ele tinha pneu? -Ta “zuando” com a minha cara, ó meu? Fala sério, você não ta acreditando em mim?! Tudo bem nem eu to acreditando no que vi, mas tudo bem, esquece, só contei porque você é meu amigo, a gente se conhece desde pequenininho... -Vou pensar cara, estou achando isso meio estranho... Acabou de comer o último pedaço, jogou os guardanapos amassados e sujos na lixeira, deu partida na moto que obedeceu prontamente, acelerando várias vezes, fazendo-a pipocar mais alto ainda, e saiu voando para o outro trabalho. Enquanto recolhia a latinha de refrigerante do balcão e passava um pano limpo com álcool no local, João do Cachorro repensou a história para não se desdizer, nem fazer confusão esquecendo algum detalhe. Não passou meia hora e já foi aumentando o movimento da barraca. Os primeiros foram os dois jornalistas do único jornal da cidade e da emissora de rádio da cidade querendo saber mais detalhes do “acontecimento” principalmente porque ouviram dizer que ele tinha sido abduzido... -E aí, é verdade que você avistou um ovni atrás da igreja? Pronto; era isso o que ele queria: agitação. Durante um bom tempo e se ele tivesse sorte até a televisão iria querer saber detalhes do avistamento e quem sabe da abdução...
Fim
Estas esculturas em barro são do artesanato de origem açoriana de Florianópolis-SC
Nenhum comentário:
Postar um comentário