Já se passaram muitos anos desde essa primeira vez ainda em lua de mel em janeiro de 1966, depois disso já fui e voltei para ela umas três vezes, e agora começo a fazer as malas para uma nova mudança. Vou sair dela novamente. Ainda não sei para onde, mas sei que vou para algum lugar e isso me causa prazer, uma mistura de sentimentos, como curiosidade e uma certa impaciencia, a de recomeçar em novo cenário, entre outras gentes, provavelmene de hábitos e costumes diferentes. Eu tenho um lado cigano muito forte, gosto de mudar. Mas por já contabilizar muitos anos de Campinas vou guardá-la para sempre no meu coração e há um tempo atrás por conta de um concurso pelo aniversário da cidade, escrevi este texto que segue abaixo e que no momento cabe muito bem, eu acho. É a história da minha primeira mudança para esta cidade.
Campinas, meu amor...
Saímos de São Paulo, logo que o caminhão de mudanças fechou as portas e se dirigiu para Campinas. Nosso vizinho, taxista, nos levou até a rodoviária para embarcarmos. O cálculo é que chegaríamos juntos. Eu, meus filhos e o caminhão da mudança. O que não aconteceu. O caminhão chegou no final da tarde enquanto eu com as duas meninas e o menino de colo chegamos 3 horas depois ou um pouco mais.
Desci do ônibus cometa, o “cometão”, por volta do meio dia e meia, há quase quarenta anos, mais precisamente em abril de 1971, vinda de São Paulo, para morar nessa cidade que aprendi a amar logo à primeira vista.
A “rodoviária”, era uma parada diante do jardim do Fórum, à direita, no final da Avenida Dr. Campos Sales. Quase no Largo do Rosário. Eu levava pela mão duas meninas de três e quatro anos, um bebê de colo de meses, meus filhos, e uma bolsa enorme. Uma das meninas carregava apertado contra o peito (!?), um bolo de fubá num prato de louça branca, que uma vizinha Portuguesa, gentilíssima e muito carinhosa, nos presenteou ao embarcarmos, para eu oferecer às crianças quando chegássemos na nova casa.
Parada na calçada, sem saber para que lado ir, e ao ver que meu marido não estava lá nos esperando na “rodoviária”, pois estava no trabalho e não conseguira sair para nos buscar, optei por atravessar aquela movimentada rua, sem ninguém para ajudar, com as minhas crianças e os nossos pertences até o ponto de táxi, que ficava do outro lado, sem a ajuda de ninguém, nem do taxista que me assistia impassível acomodar as crianças a bagagem e a mim própria dentro do veículo dele. Ali ja aprendi que viver aqui era cada um por si. Mas tudo bem.
Acomodados todos, nos dirigimos ao endereço que meu marido havia deixado comigo, da casa onde íamos morar por uns quatro anos mais ou menos, e naquele mesmo bairro quase vinte anos...
Ali, naquela casa, naquele bairro, conheci pessoas maravilhosas, amigos sinceros e prestativos, que me recordo com carinho e saudade. Alguns já estão com “papai do céu, no andar de cima".
Entreguei ao motorista do táxi, o endereço escrito no papel e seguimos então em direção ao Viaduto Miguel Vicente Cúri, para um bairro relativamente novo, o Campos Elíseos, onde me deslumbrei com o “túnel” de Flamboyant’s que coloriam todas as ruas naquela primavera de 1971. Sim porque cedo descobri que em Campinas a primevera é o ano todo. Está sempre florindo algum tipo de árvore. Me lembro que fiquei comovida até as lágrimas, por ver que iríamos morar num “paraíso” de flores, onde meus filhos cresceriam sem precisar olhar pelas janelas e ver paredões enormes e intermináveis ruas movimentadíssimas, num vai e vem frenético as vinte e quatro horas do dia, que poderiam ver ao vivo e a cores, o por do sol em seus incontáveis tons de vermelho. Onde poderiam admirar uma revoada de pássaros à tarde, num barulho infernal avisando que o dia estava se acabando, para dar lugar as belas e estreladas noites mornas; sem contar que da casa que alugamos, dava para ver uns trens, que mais pareciam de brinquedo, indo e vindo, lá no alto de um morrinho. Nos primeiros dias, sentávamos todos nos degraus da frente, para observar o trem passar nos fins de tarde, com seus vagões de carga e alguns poucos de passageiros. Inesquecíveis momentos aqueles...
Levei meus filhos a passear de trem muitas vezes até São Paulo e voltávamos no mesmo dia, pelo prazer da novidade.
Também íamos ao Bosque com freqüência, onde sempre examinávamos logo à entrada no lado direito, uma árvore de raízes gigantes ao lado de Bambús também gigantes, (“varas de pescar lambarí”, brincavam as crianças) pássaros de todas as cores e tamanhos, araras barulhentas, macaquinhos soltos, bicho preguiça e tantos outros faziam a festa da criançada. Visitávamos o Museu de história Natural, onde eles gostavam de “ver de perto” o lobo Guará, o Museu do índio, a casa de caboclo, e assim percorríamos o itinerário das jaulas e viveiros de pássaros, além de observarmos alguns outros animais selvagens em tanques e cercados de segurança.
As vezes dava tempo de irem também ao teatro infantil lá mesmo, dentro do Bosque, e para completar, antes de voltarmos para a casa, dávamos uma volta de trenzinho tomando sorvete ou comendo algodão doce.
Num outro dia, escolhíamos o Parque Taquaral. Lá também apreciávamos aves e passeávamos de bonde, um sobrevivente dos tempos antigos que servia a cidade e “navegávamos” de pedalinho, enquanto apreciávamos os marrecos e algumas capivaras.
Certo dia, li no jornal que no jardim que ficava em baixo do Viaduto Miguel Vicente Cúri, tinha um relógio de sol. Resolvi de imediato mostrar aos meu filhos o que era um relógio de sol. Entre patos e gansos que nadavam placidamente ali perto, no pequeno lago, ensinei meus filhos, como se calculava as horas num relógio de sol. Entre as curvas daquele viaduto, havia um lindo e singelo, jardim florido.
Também fomos algumas vezes até o alto da avenida Andrade Neves para subir no Castelo e entre outras coisas observarmos um marco onde passa a linha imaginária ( um paralelo?) que atravessa a cidade que está lá em cima da torre, com todos os graus e latitudes.
Fazíamos turismo dentro da cidade. Sempre tinha algo que ver e apreciar.
Lindos dias aqueles...
Naquela casa tive mais um filho. Aos vinte e sete anos tive meu quarto filho na Casa de Saúde Campinas, ali bem no centrão da cidade.
Logo em seguida comprei uma casa no mesmo bairro, e moramos lá por quase vinte anos.
Na adolescência deles, minha casa naqueles tempos, vivia sempre cheia de amigos dos filhos, e do meu marido. Casa de mecânicos, sempre tinha alguém arrumando alguma coisa na garagem, no quintal, instalando ou exibindo o som, comendo, tomando café na minha cozinha, o que também sempre foi normal na minha casa, a liberdade de ir e vir da minha família e seus amigos.
Foram muito bons aqueles tempos. Graças a Deus, amigos e bons vizinhos nunca faltaram.
Os filhos cresceram, estudaram no Sesi das Amoreiras, As filhas fizeram faculdade, uma na Puc de Campinas, outra fora da Cidade.Todos os filhos cresceram, se tornaram independentes, e eu voltei em 1993 com meu marido para Florianópolis - SC, minha terra. Moramos quase 11 anos numa praia maravilhosa (Ingleses), naquela ilha paradisíaca até quando fiquei viúva há 6 anos atrás, infelizmente.
Foi então que optei por voltar a morar em Campinas, lugar de tantas e boas lembranças. Escolhi morar nesta cidade, que sempre me acolheu de braços abertos. Tenho dois filhos e uma filha morando aqui, que me deram netos Campineiros, e assim resolvi voltar.
Me sinto muito bem, e em “casa”, aqui em Campinas. Reencontrei amigos daquela época, e já fiz alguns novos.
Campinas é uma cidade que tem a capacidade de receber pessoas de todos os lugares do país e do mundo de braços abertos como o colo de uma grande e doce mãe. Ainda guarda alguma coisa de interior, com casas com quintal, juventude em bando como gaivotas barulhentas, ainda com opções de trabalho. Roda de amigos em churrasco e cerveja, nos finais de semana e nos barzinhos da moda. Bem normal, como toda cidade deve ser.
Mas o que me comove por demais em Campinas, são as árvores floridas; Seus Ipês, rosa, roxo e amarelos, os Flamboyant´s e Primaveras de várias cores que se derramam em verdadeiros tapetes para você passar...