Massageando o Ego
Acordei com o barulho da britadeira da reforma ao
lado. Ainda zonza de sono e atordoada entrei no chuveiro e depois fui fazer meu
café para acabar de acordar. Peguei o tablet e fui ler os jornais virtuais como
faço sempre.
Passei os olhos nas primeiras notícias que me
pareceram as mesmas de ontem; foi quando me dei conta de que havia algo
estranho no ar, procurei pela casa e não encontrei o Otávio que provavelmente
saiu para caminhar na orla ou aprontar alguma "arte" como costuma fazer.
Liguei a antena de alerta mas não me preocupei muito, já acostumada com as surpresas dele e voltei para a minha leitura de
notícias requentadas e as novas tão desinteressantes que valia mais nem ler
para não me chatear.
Levantei dali e fui arrumar a casa. As horas foram passando e comecei a me preocupar com a demora do Otávio.
Levantei dali e fui arrumar a casa. As horas foram passando e comecei a me preocupar com a demora do Otávio.
“Lá vem coisa”, pensei com minhas pantufas de
crochê.
Perto do meio dia, quando preparava o almoço, ouço o
barulho da chave girando na fechadura e entra a criatura peluda de olhos
amarelos carregando uma caixa enorme.
“Bom diiiia”, ou já seria boa tarde, falei; Até que enfim chegou sua majestade.
- Bom dia, eu estava lá embaixo esperando chegar a minha encomenda...
- Que encomenda?
- A que eu fiz semana passada, não aguentava mais
esperar que entregassem.
Enquanto falava foi rasgando o papel que embrulhava
a enorme caixa de papelão até desfazer totalmente o pacote deixando ver uma
geringonça esquisita.
- O que é isso, que treco é esse, não me diga que
vai fazer macarrão para vender?
- Tá maluca? Isto é um massageador de ultima geração!
Totalmente computadorizado com controle remoto.
- Parece um rolo de macarrão gigante, com cerdas de
borracha e um suporte grande demais para o meu gosto. Onde pretende instalar a
geringonça?
- Grande para quem? E de mais a mais o que você
chama de geringonça é um substituto de cafuné, já que a atividade está cada vez
mais escassa por essas bandas. Preciso implorar ultimamente para ganhar três
míseros minutos de sua atenção.
- Ai que maldade, faço cafuné várias vezes ao dia em
você e nunca é suficiente...
- Pois é, dai que vi essa máquina para vender na
internet e comprei. A gente encaixa sobre a cama e o rolo vai massageando as
costas com essas cerdas macias de borracha... Aliás, já vou
instalar na minha cama e nas próximas horas, talvez dias, não estarei para
ninguém. Vou ganhar cafuné até cansar...
Ai que inveja!