Otávio saiu apressado, logo cedo, sem me dizer aonde ia
e o que pretendia fazer.
Imediatamente dentro da minha cabeça soou o alarme de
que alguma “arte” ele estava aprontando, já que a bem da verdade ele andava
meio esquisito ultimamente.
A única novidade, que eu poderia até chamar de
saudável, é que saía de casa bem antes do amanhecer para correr e ao final da
tarde novamente, calçado de tênis de corrida e carregando o cronômetro. E isso
começou logo após o Carnaval.
Eu até achei um pouco estranho no começo, pois ele
sempre foi preguiçoso, sedentário e dorminhoco, mas não podia negar que era
muito bom para a saúde da criatura peluda, que pelos meus cálculos já beira os
cinquenta anos (!?), mesmo que durasse pouco tempo valeria a pena.
Hoje, sábado de Aleluia o ritual mudou um pouco, além de
sair depois do sol, ainda levou algo na mochila que não quis mostrar e não
insisti para ver.
Depois de botar ordem na casa, peguei mais uma caneca
de café e fui sentar na minha poltrona favorita, com as costas no sol, fui ler
meu jornal físico, hábito que preservo com prazer.
Por volta das 12.30 hs a campainha tocou e
estranhando o inusitado fui atender e me deparei com dois policiais trazendo
Otávio, todo suado e com os olhos maiores e mais amarelos do que já são.
Antes que eu perguntasse o acontecido o policial me
entregou Otávio me explicando que ele só não seria detido por ser um feriado
Santo, mas que “este Senhor peludo” merecia um castigo exemplar.
Sem conseguir piscar e nem fechar a boca de espanto
ouvi do policial que em homenagem à Páscoa
a cidade estava promovendo entre outras atrações, uma corrida de coelhos e o
vencedor ganharia uma medalha e ainda seria agraciado com uma viagem à
Pomerode-SC para conhecer “o maior ovo de Páscoa do mundo”, além de comer todos
os chocolates de graça que quisesse e pudesse, só que como eu disse a corrida
era de coelhos e este senhor muniu-se de um par de orelhas e um rabo de pompom
e se inscreveu e o pior, correu e ganhou em primeiro lugar, só que foi
desmascarado quando o prefeito foi colocar a medalha no seu pescoço e bateu
numa das orelhas falsas que desprendeu-se e caiu esplendorosamente causando um
estremecimento e uma consternação geral, quase sendo linchado na via pública.
Ganhou, mas não levou e só não foi detido para não
estragar com os festejos da Páscoa.
O que eu poderia dizer depois de ouvir isso?
Agradeci e desejei boa semana a todos enquanto o “criminoso”
se escondia nos lençóis...