quarta-feira, 20 de junho de 2018

A Viagem Insólita



                                    A Viagem Insólita
O frio e a chuva batendo na janela me levaram a dormir cedo.
Afundei a cabeça nos meus travesseiros de penas de ganso, me cobri com minha mantas macias, adormeci como um bebê e sonhei que viajava num submarino, ou numa nave das profundezas do oceano.
Para melhor apreciar me sentei bem à frente, diante de uma enorme janela, na esperança de ver muitos peixes e até, por que não?, um monstro marinho com tentáculos e olhos enormes, ou talvez um olho só como aparecem nos filmes?!
Bem, já comecei achando  que a viagem era mais escura do que aparecem nos filmes, talvez o holofote à minha frente não fosse dos melhores, de boa qualidade e potência de foco, dai que fiquei mais atenta ainda ao que via mesmo o cenário não me agradando e a cada centímetro que avançávamos fui ficando cada vez mais desestimulada a continuar aquela aventura sinistra.
De repente dei de cara com uma ervilha e logo atrás um grão de milho que me pareceram enormes.  Tudo boiando num caldo semi transparente, de cor indefinida.
 - Zeus! - gritei.  Devo está num planeta de gigantes. - pensei.-  Mas continuamos a missão e vi também um grão de feijão, uma uva passa e uma folha de salsinha baterem no visor. Dai foi demais e me recusei a continuar.  Então pedi aos gritos que parassem a viagem que eu queria descer, até porque um alto falante avisava aos berros que a nave estava saindo do estômago e continuaríamos  seguindo o roteiro, primeiro passando pelo lado da vesícula biliar, que por sinal ostentava uma pedra que mais parecia uma pérola, e depois seguiríamos viagem em direção ao duodeno ou seja lá o que for que vem depois.
É claro que acordei em desespero e fui correndo tomar um sal digestivo, pois acho que alguma coisa que comi no jantar não me caiu bem...





sexta-feira, 1 de junho de 2018

Reunião de Condomínio


                                   Reunião de Condomínio
Há duas noites passadas dessa semana houve reunião de condomínio e como estava indisposta, resolvi não ir e até passaria uma procuração para a minha vizinha de andar responder por mim caso assim fosse necessário, confiando nos deuses por que a velhinha já caminha para o Alzheimer à passos largos e sei lá o que poderia resolver em meu nome, mas como não me sentia em condições de ir pensei nela que jamais falta a uma reunião.
Mas quando me conduzia à porta dela, Otávio se interpôs me dizendo que iria no meu lugar. Dai entrei em conflito, pois não sabia qual seria o meu pior representante, mas por conta do adiantado da hora da reunião resolvi dar a vez para o Otávio com a promessa de me relatar cada item da discussão com suas reações e atitudes dos condôminos.
Otávio saiu para a reunião que em segunda chamada se iniciaria impreterivelmente as 20h, dez minutos antes e retornou quinze para a meia noite febril, com os olhos arregalados e mais amarelos que nunca, desgrenhado e gaguejando, me garantindo que nunca mais faria parte de tal evento.
Depois de um chá forte de erva doce e Capim Cidreira, enrolado no cobertor de estampas de asas delta e gorro de aviador ele me relatou o que aconteceu na reunião:
- Olha só, quando cheguei tinha duas ou três pessoas atentas em olhar o celular que nem me viram entrar e nem responderam o meu boa noite. Os que presidiriam a sessão ordinária, e a palavra deve ser bem adequada, arrumavam o projetor de imagem e demais badulaques sobre a mesa de plástico coberta com toalha de renda, puro mau gosto, diga-se de passagem, também me ignoraram solenemente. Quando faltavam dois minutos chegou uma avalanche de "cinco mil pessoas" que foram se colocando nas cadeiras e fazendo o maior barulhão, já que cadeiras plásticas são para beira de piscina ou para serem usadas em lugares fechados por pessoas educadas. A turba também chegou ignorando uns aos outros, nem dando "boa noite cachorro!". Em seguida foi aberta a sessão com resmungos da maioria, ninguém prestava atenção, todos falavam juntos e sempre reclamando que nunca eram atendidos em suas reivindicações e que só sabiam cobrar cada vez mais; essa frase foi repetida por todos e aplaudida por unanimidade. Duas senhoras muito falantes, com voz de professora de crianças, falavam três tons acima do necessário aturdindo e estremecendo as minhas orelhas, outras duas trouxeram tricô para não haver desperdício de tempo, imagino que vivam desse trabalho.
Lá pelas tantas, os ânimos foram ficando acirrados e um condômino chamou um outro de ladrão e as mulheres começaram a discutir e até se atracaram aos gritos rolando pelo chão. A Senhora do Tricô ameaçava furar o olho da que brigava com a amiga dela, na verdade eram amigas de porta. A "homarada" não dava conta de soltar as duas e retirar a do tricô de cima também e a polícia foi chamada. Fomos todos parar na delegacia e a do olho furado para o hospital. Realmente não entendi para que fazem reunião de condomínio. Ninguém se conhece e nem querem se conhecer e os que se conhecem não se toleram. Ninguém chega nunca à um consenso!?
Eu em?...
Fomos dormir que era o melhor a fazer...