O Buraco Negro
Gente, cada uma que me acontece...
Semana passada contei o evento de calçar a botinha com um queijo
polenguinho dentro lá em Paris.
Pois bem; estou impressionada ainda com alguns mistérios que
me acontecem...
Antes é bom que se diga que eu adoro o sol e por isso não
gosto de óculos escuros, só os uso em raras ocasiões como quando tenho
conjuntivite e olhe lá... -toc toc toc
na madeira! –
Eu penso que se eu às vezes espero dias por um lindo dia de
sol, como vou colocar óculos escuros e ficar na penumbra até que ele se ponha
no horizonte? Pura incoerência.
Bem, mas quem já foi a Paris sabe que o Astro-rei lá pelas três da tarde é tão intenso como o
nosso sol de meio dia.
Daí que andando de um lado para o outro naquela luz intensa,
e deve ser por isso que deram o nome de Cidade Luz à bela cidade, as filhas
Lígia e Andréa começaram a perguntar se eu não trouxe os óculos escuros e eu
sempre e várias vezes dizia que não, não precisava, pois gosto de sol...
E foi numa dessas que entramos numa loja onde vendiam óculos
e as duas cismaram que eu devia comprar um par de óculos e eu que só uso óculos
para ler e amarrado na cordinha, pois largo logo que a frase termina com ponto
final, comprei um para acalmá-las das preocupações. Afinal uma mãe manca já dá
trabalho que chegue imagina se fica “cegueta” lá naquelas lonjuras.
Comprei um par de óculos e sai feito uma mosca tonta que
quase o joga no chão por várias vezes, alias já estava ficando irritada pois
como sempre tiro quando não estou lendo eu automaticamente retiro do nariz e o
abandono, e se não estiver amarrado vai para o chão com grife ou sem grife...
É bom que se diga que uso óculos de grau desde os trinta
anos, e isso já faz tempo.
Eu sempre achei muito
chato andar com aquele traste na frente do rosto e diante dos olhos, mesmo que
me ajudasse a enxergar absolutamente tudo que não conseguia decifrar sem eles.
Algumas armações me doíam atrás das orelhas, que aliais
tenho uma um pouco mais em cima que a outra, é coisa mínima, mas é para
atrapalhar mesmo (vai ver por isso Van Gogh cortou uma delas) às vezes machucava
entre os olhos sobre o nariz até esfolar. Um horror.
Quando fazia calor aquela armação não parava no lugar e na
chuva embaçava tudo.
Resolvi temporariamente usar lentes de contato, até que na
quarta edição descobri que sempre perdia a do olho direito por conta de um Pterígio,
uma pele que vai crescendo sobre o olho e é claro que nenhum dos médicos me
avisou que a aderência não seria perfeita, senão como vender as lentes para mim
que sempre paguei à vista? Não o olho, à
vista. ;)
Sim, reconheço que
este trocadilho foi infame.
Dai resolvi o problema há uns dez anos fazendo a cirurgia de astigmatismo à Laser, só precisando agora para ler de perto e as vezes até leio sem.
Dai resolvi o problema há uns dez anos fazendo a cirurgia de astigmatismo à Laser, só precisando agora para ler de perto e as vezes até leio sem.
Pois bem; voltando aos óculos escuros, fui andando um tanto
incomodada com aquele aparato diante dos olhos. Entramos na Galeria Lafayete, numa
Loja Zara e em outras que não lembro os nomes.
Experimentamos roupas, entramos e saímos de provadores e toaletes
e quando cheguei ao hotel, larguei como fazia sempre, as minhas coisas em um
canto, pois as dores eram quase insuportáveis e me largava sobre a cama
enquanto retirava o tênis e enchia os pés de pomadas de três tipos, inclusive
uma era alemã que a Lígia havia me trazido e tomava os meus remédios da noite
acompanhados de um analgésico. Mas quem se importa com isso em Paris?
Até que no último dia resolvemos dar mais uma volta naqueles
ônibus abertos e as filhas ficaram me lembrando de levar os óculos escuros,
chapéus etc.
Só que depois de procurar muito e não encontrar naquele
revirado de malas, bolsas e sacolas que se acumularam ao longo dos dias,
desisti de procurar achando que tinha esquecido em alguma loja ou em algum provador e sai sem óculos
mesmo, dizendo que não me fariam falta, pois não me acostumo mesmo a esconder o sol.
Passeamos o dia todo e ao chegarmos fizemos as malas para
ainda no dia seguinte podermos andar até a hora de irmos para o aeroporto.
Pois bem, chegando em casa de volta umas trinta horas depois, la pelo meio da tarde e bem
cansada, com sono e mais tola do que sou, deixei a mala de lado e nem abri
antes de deitar. Só à noite, ainda morrendo de sono desmanchei a mala rapidamente
pendurando as roupas, separando as de
lavar e guardei os calçados que levei e nem usei, pois lá só andei e voltei de
tênis e quem se importa com isso em Paris?
Pois ontem, passados dez dias da chegada, fui pegar uma botinha mais surradinha que tenho,
para não sair de tênis de novo e não doer os pezinhos de estimação, retirei do
saquinho onde guardo cada par no seu e peguei a botinha da viagem por engano, a
famosa do queijinho “polengui” quando despencou aos meus pés alguma coisa
escura que me assustou; advinha? Sim o par de óculos escuros!!! Ele mesmo com
todo o seu sotaque francês.
É mole essa botinha?
Perigosa isso sim!
A Lígia acha que ela é um portal para outra dimensão, a
Andréa acha que é a do Gato de botas, que também era mágica.
E eu estou pensando
seriamente que pode ser um buraco negro até perigoso, que suga tudo que passa
perto e esconde.
Então quero que fiquem avisados que se eu sumir, já sabem;
procurem dentro da botinha...
Hahahahahah...