A Hora do Golpe
Outro dia eu andava distraída pelo lado direito do calçadão quando um
tumulto se instalou e começou um corre-corre.
É que um cara com aparência de bronco, tentou dar o Golpe do Bilhete premiado numa velhinha com
cara de boba, mas escolada pela vida, e percebendo a intenção do meliante sacou de
uma pequena faca que acabara de comprar e carregava na bolsa, e num golpe baixo
atingiu direto a coxa esquerda do sem vergonha que caiu aos pés da amiga da
velhinha que havia sido desdenhada pela vítima pela sua idade avançada e sua aparência humilde. Não sabia ele que ela matava um porco com um golpe certeiro. Um só.
Na hora o sangue brotou e passou a escorrer pelas pedras do
calçamento aumentando o tumulto enquanto o homem se debatia e gritava em desespero.
A situação se complicou quando várias pessoas
aqui e ali ao verem o sangue escorrendo pelo chão desmaiaram. Uns socorriam e outros eram
socorridos, abanados e apoiados pedindo que um golpe de ar viesse ajudar as
pessoas a reagir.
Aos gritos de sem vergonha, bandido e outras palavras menos
elegantes, rodearam o quase cadáver. Uns queriam golpeá-lo mais ainda, porém
outros argumentavam que era covardia, deviam esperar a polícia e o socorro.
O pipoqueiro encostou e os vendedores de meias soquetes, celulares
e DVD pirata, não perderam tempo em oferecer seus produtos enquanto a velhinha
repetia pela milionésima vez o ocorrido, até que alguém a mandou embora para
não ser presa em flagrante e levada para a delegacia.
Assustada ela saiu
rapidamente e sumiu no meio da multidão acompanhada da “irmã” da Igreja que
estava com ela.
A Polícia foi chamada e chegou chegando como um golpe de
vento, sirene ligada espalhando a roda e já afastando os curiosos que
apreciavam o cara se esvair em sangue fazendo fotos e “selfies” com o celular.
Num golpe de vista o soldado mais velho avaliou a gravidade
da situação chamou a ambulância e ainda avisou da urgência.
Ao perguntarem aos presentes se viram o ocorrido a maioria
só falava que a velhinha tinha acertado um golpe de canivete, outros diziam que
era um golpe de peixeira, outras já afirmavam que ela carregava um facão de
cortar cana que desembrulhou rapidamente e deferiu o golpe rápido e certeiro na
perna do golpista.
O soldado que escrevia a ocorrência na prancheta que levava
na mão só entendia a palavra golpe, vinda de todas as bocas, talvez por estar na moda.
Todos queriam
falar até que ele foi perguntando os nomes e os convidou a ir até a delegacia
quando chamados para contar o que viram.
Na mesma hora todos foram dando desculpas e foram saindo de
fininho. Ninguém queria se comprometer...
Continuei o meu caminho e atravessei para o lado esquerdo do
calçadão ao avistar uma amiga que não via há muitos anos. Antes não tivesse
feito isso.
A mulher desatarraxou a boca e não parava de contar tudo que
aconteceu na sua vida. Desde o primeiro casamento e as outras muitas tentativas
que não deram certo culminando com a declaração sincera de que havia dado finalmente o
golpe do baú num velho rico. Agora ela aguarda ficar viúva para sair viajando pelo
mundo.
Pode isso, eu em? Cada uma...
Continuei o meu caminho na direção da ótica para comprar um
par de óculos de sol e quando cheguei na frente da loja havia um aviso dizendo
que por motivo do sócio ter dado um Golpe eles estavam de portas fechadas até
resolverem o problema. Pediam desculpas e esperavam que os clientes entendessem
a situação.
Sem-or ! Voltei para casa rápido, pois havia um burburinho diante de uma televisão ligada numa loja de que estava acontecendo um Golpe de Estado...
É mole?