Verde e Azul
Acordei com uma voz aos gritos me dizendo que eu ia me
atrasar para o trabalho.
Levantei-me tonta de sono e sem raciocinar direito fui até a
cozinha e coloquei a cafeteira em funcionamento e ainda sob o comando da voz
me dirigi ao banheiro e tomei banho de olhos fechados tal o sono que tomava
conta de mim. E assim como um soldado num quartel obedece ao seu superior
peguei minha bolsa e minha pasta e segui na direção do elevador sob o comando daquela voz.
Fiz todo o percurso de quase de olhos fechados, pois mal conseguiam se
manterem abertos. Caminhei até o ponto do ônibus e entrei levada sob pressão, quase aos empurrões, pelos apressados que estavam logo atrás de mim na fila.
Sempre ouvindo cochichos incompreensíveis, porém intensos nas profundezas da minha cabeça, sai mais cedo e assim, a pau e corda, trabalhei até o meio da tarde, pois a cada hora ficava mais difícil me concentrar no trabalho.
Voltei para casa exausta e assim como entrei em casa, larguei minhas coisas e me atirei no sofá querendo apenas dormir e dormir.
Lá pelas tantas acordei com uma voz me avisando que eu precisava acordar e comer. Assim o fiz como um autômato e na cozinha comi além da conta e coisas bem estranhas me chamaram a atenção. A voz me gritava coma o que tem neste pote, misture com o que tem neste pacote, coloque o que tem no vidrinho verde por cima e assim foi.
Fiz uma mistura digna de uma grávida com desejo e me joguei novamente no sofá enquanto continuava a ouvir vozes sussurrando baixinho sem que eu pudesse entender, até que novamente a voz clara e nítida me mandou ligar a televisão e sofregamente fui trocando de canal o tempo todo sob o comando da voz imperiosa, foi ai que me deu um estalo e me lembrei de ligar para a minha amiga médica lhe contando o que estava acontecendo.
Ela me disse para eu tomar um taxi e ir até o hospital onde ela estava de plantão, assim eu poderia conversar com um dos médicos, colegas dela. Talvez os remédios que eu estava tomando para a depressão, estivessem produzindo algum efeito colateral.
Tão atarantada eu estava que só calcei os sapatos, peguei a bolsa e desci para pegar um taxi pedindo ao motorista que me levasse ao hospital.
Ao chegar fui levada imediatamente para uma sala onde se encontrava um médico, que vim a saber
depois,
era um psiquiatra.
E as vozes continuaram cochichando...
O médico ainda relativamente jovem me fez vários testes e exames e a cada momento eu
piorava, pois parecia que as vozes entraram em pânico dentro da minha cabeça.
Foi quando entrou mais um médico e juntos reavaliaram o que eu falava e como
divergiram do diagnóstico resolveram fazer uma Tomografia Computadorizada e
duas horas depois, uma Ressonância Magnética. De lá de dentro da máquina eu não podia ouvir os médicos e nem vê-los, mas na ante-sala do exame já se encontravam quatro médicos examinando o meu cérebro. Eles também foram chamados pelos colegas que haviam chegado antes.
O que tanto os espantava é que os exames mostravam que havia dentro da minha cabeça, no meu cérebro, um corpo estranho que depois de muito estudo e observação chegaram a conclusão que era uma micro nave espacial. No seu interior dava para ver nitidamente duas micro-criaturas alienígenas, uma verde e uma azul, instaladas em cadeiras giratórias, tendo à frente um painel de informações e duas telas diretamente ligadas aos meus olhos dando uma imagem precisa ao que eu via e me comandavam lá de dentro do cérebro aonde me conduziam e me davam ordens.
Daí que através da minha mediação foram explicando que eram de Marte, de uma região entre duas rochas que formavam um vale profundo, onde havia uma população de criaturas como eles, se bem que os azuis eram em menor número, porém como tinha sido instituído um programa de cotas ele teve que ser aceito no programa.
Eles haviam chegado há duas madrugadas atrás e entraram pela orelha direita enquanto eu dormia se instalando sem mais problemas, dando andamento às suas pesquisas e pretendendo avaliar se havia compatibilidade entre os dois planetas.
Eles eram admiradores do planeta azul, era sonho de consumo para a maioria dos Marcianos virem morar na terra.
Assim, após algumas horas de conversa e intercâmbio, os invasores foram convidados a sair do meu espaço mental e eles se foram, saindo pelo ouvido direito e levando suas coisas.
Ainda os apreciei sair voando na micro-nave pela janela da sala de exames, tão pequenos como uma semente de gergelim em sua nave tamanho de uma ervilha.
Depois de algum tempo entre divergências e discussões a Junta médica decidiu trocar a minha medicação e deixaram-me dormindo algumas horas, antes de me liberaram para voltar para casa...
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