A importância de uma porta..
Certa vez, assistindo o Jornal Nacional, me comovi ao me deparar com a triste situação de alguns moradores de rua que foram entrevistados por uma jornalista. Tudo bem, de vez em quando vemos esta matéria que a bem da verdade nem nos causa tanta dor quanto deveria, de tão repetida. Infelizmente, a gente acostuma, e não devia.
Mas como dizia, nada de estranho não fosse a batida matéria tratando as pessoas "gente", com perguntas tolas e sem sentido como sempre.
Mas nesse dia especialmente, fiquei sensibilizada.
A jovem jornalista foi até um "amontoado de coisas de todo tipo" em baixo de um enorme viaduto e entrevistou uma pobre família composta de marido, mulher e uma menininha de uns 4 anos muito bem cuidada e limpa, diga-se de passagem. A mulher franzina e humilde, sem fazer idéia o que é decoração ou coisa parecida, por motivos obvios, conseguiu arrumar seus miseráveis pertences de forma harmônica e prática. Aproveitando os diversos tapetes que arrecadou pela cidade, estendeu-os lado a lado sob a insensivel e concreta ponte, fazendo "cômodos" sobre cada um estabelecendo naquele exíguo espaço uma planta baixa onde de acordo com o mobiliário estavam dispostos cada ambiente. No "quarto do casal" uma cama acomodava um colchão antigo de molas e vários restos de mantas e cobertores de todo o tipo esticados uns sobre outros, e nas laterais caixotes acomodavam as roupas dobradas, talvez até de marcas famosas que ganhavam pela cidade. Mais ao lado, um tapete delimitava o "espaço" da filhinha, onde dormia plácidamente num berço cor de rosa entre bonecos de pelúcia, "levemente" descorados e faltando alguns membros . Do outro lado, um velho móvel guardava umas latas de nescau e leite em pó com comidas secas e bolachas que ela fez questão de mostrar e até oferecer a entrevistadora. Sobre dois blocos de concreto, um fogãozinho de duas bocas todo retorcido "acomodava" uma panela enegrecida de tanto ser usada para cozer algum alimento. Dava pena e ao mesmo tempo admiração ver tanta obstinação em viver em tão difíceis circunstâncias e principalmente da melhor forma com o que tinha ou arrecadavam.
Mas o que mais me surpreendeu mesmo, foi o diálogo da jornalista com a mulher;
- A senhora consegue morar aqui neste lugar com todo esse barulho?
-Fazer o que né? A gente faz o que pode...
-E qual é o seu maior sonho, o seu maior desejo?
-Eu sonho em ter um barraquinho meu. Eu até imagino no final do dia quando vai anoitecendo eu vou até a janela e fecho, vou até a porta e fecho. A minha maior alegria é ter uma porta para fechar e abrir...
Alguém faz idéia do que é viver sem portas e janelas para se proteger?
E você? Qual é o seu sonho de consumo?
Aqui você vai encontrar assuntos diversos de acordo com o meu estado de espírito: alegre, triste eventualmente, muito raramente com raiva, porém geralmente com uma pitada de irreverência.
Quem sou eu
- Clotilde ♥ Fascioni
- Campinas , São Paulo , Brazil
- Tenho mais de setenta anos, mãe de quatro e avó de seis, bisavó de dois e uma saudade eterna. Leonina humor sarcástico e irreverente. Gosto de ler, escrever, pintar, costurar, fotografar, não necessariamente nessa ordem. Gosto de observar e ouvir pessoas, suas histórias de vida que para mim são sempre interessantes e ricas de ensinamentos e só aumentam o meu conhecimento com respeito a viver. Acho bom e interessante olhar a nossa volta. É sobre isso que gosto de escrever.Gosto de cinema, assistir seriados na TV, teatro, viajar,passear,viajar,passear... conhecer lugares e bater papo sem compromisso. Gosto de olhar o mundo com olhos curiosos de quem acabou de chegar e quer se inteirar do que está "rolando".O nome escolhido "Espírito de Escritora" não tem a pretensão de mostrar aqui "grandes escritos" tirados das entranhas da sabedoria mais profunda e filosófica de alguém "letrado" ou sábio. Simplesmente equivale a dizer "escrever com alegria","escrever com espirituosidade".Tudo o que escrevo já está escrito dentro de mim, do meu eu mais profundo, só boto para fora... sei lá... Este é um lugar de desabafo e de reflexões minhas."Os bons que me sigam". (sabedoria do Chapolim Colorado)
quarta-feira, 3 de junho de 2009
A importância de uma porta e o sonho de consumo.
A importância de uma porta..
Certa vez, assistindo o Jornal Nacional, me comovi ao me deparar com a triste situação de alguns moradores de rua que foram entrevistados por uma jornalista. Tudo bem, de vez em quando vemos esta matéria que a bem da verdade nem nos causa tanta dor quanto deveria, de tão repetida. Infelizmente, a gente acostuma, e não devia.
Mas como dizia, nada de estranho não fosse a batida matéria tratando as pessoas "gente", com perguntas tolas e sem sentido como sempre.
Mas nesse dia especialmente, fiquei sensibilizada.
A jovem jornalista foi até um "amontoado de coisas de todo tipo" em baixo de um enorme viaduto e entrevistou uma pobre família composta de marido, mulher e uma menininha de uns 4 anos muito bem cuidada e limpa, diga-se de passagem. A mulher franzina e humilde, sem fazer idéia o que é decoração ou coisa parecida, por motivos obvios, conseguiu arrumar seus miseráveis pertences de forma harmônica e prática. Aproveitando os diversos tapetes que arrecadou pela cidade, estendeu-os lado a lado sob a insensivel e concreta ponte, fazendo "cômodos" sobre cada um estabelecendo naquele exíguo espaço uma planta baixa onde de acordo com o mobiliário estavam dispostos cada ambiente. No "quarto do casal" uma cama acomodava um colchão antigo de molas e vários restos de mantas e cobertores de todo o tipo esticados uns sobre outros, e nas laterais caixotes acomodavam as roupas dobradas, talvez até de marcas famosas que ganhavam pela cidade. Mais ao lado, um tapete delimitava o "espaço" da filhinha, onde dormia plácidamente num berço cor de rosa entre bonecos de pelúcia, "levemente" descorados e faltando alguns membros . Do outro lado, um velho móvel guardava umas latas de nescau e leite em pó com comidas secas e bolachas que ela fez questão de mostrar e até oferecer a entrevistadora. Sobre dois blocos de concreto, um fogãozinho de duas bocas todo retorcido "acomodava" uma panela enegrecida de tanto ser usada para cozer algum alimento. Dava pena e ao mesmo tempo admiração ver tanta obstinação em viver em tão difíceis circunstâncias e principalmente da melhor forma com o que tinha ou arrecadavam.
Mas o que mais me surpreendeu mesmo, foi o diálogo da jornalista com a mulher;
- A senhora consegue morar aqui neste lugar com todo esse barulho?
-Fazer o que né? A gente faz o que pode...
-E qual é o seu maior sonho, o seu maior desejo?
-Eu sonho em ter um barraquinho meu. Eu até imagino no final do dia quando vai anoitecendo eu vou até a janela e fecho, vou até a porta e fecho. A minha maior alegria é ter uma porta para fechar e abrir...
Alguém faz idéia do que é viver sem portas e janelas para se proteger?
E você? Qual é o seu sonho de consumo?
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Meu sonho é ter uma porta que os vizinhos não reclamem...eheheh
ResponderExcluirLígia, enquanto escrevia o texto, bem que me lembrei da tua porta artística e tão rejeitada pelos vizinhos invejosos...hahaha.
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